domingo, 10 de março de 2013

PROGRAMA PRAIA ACESSÍVEL AGORA NO RIO DE JANEIRO


Onze anos de vida e apenas um mergulho no mar, conseguido a muito custo, há quatro anos. Essa era a realidade de Jorge Alves da Silva até domingo, quando ele participou pela primeira vez do projeto “Praia para todos”, da ONG Instituto Novo Ser, que possibilita pessoas com deficiência física a entrarem no mar. Em sua quinta edição, o programa inaugurou no domingo o segundo ponto fixo, desta vez na Praia de Copacabana, e já arrancou sorrisos do pré-adolescente.

De zero a dez, dou nota 20 para o projeto. Gosto muito de praia e quero vir outras vezes — disse Jorginho, que ficou com sequelas motoras devido a problemas sofridos na hora do parto.

Moradora de Irajá, Patrícia de Souza, mãe do menino, soube do projeto no ano passado, numa feira voltada para pessoas com deficiência. Ao ver o menino de novo no mar, lembrou de tempos difíceis:

Há quatro anos, trouxe Jorginho para ver um desfile da Walt Disney em Copacabana, e quando ele viu o mar ficou louco. Tentei levá-lo com a cadeira de rodas, mas não consegui, e ele foi se arrastando até a água. Foi horrível.

Lançado no verão de 2008/2009 de forma sazonal e itinerante, o “Praia para todos” conseguiu seu primeiro ponto fixo em 2010, perto do Posto 3 da Praia da Barra. Naquele mesmo ano, a novela “Viver a vida”, da TV Globo, deu-lhe visibilidade ao mostrar a protagonista usando a cadeira anfíbia, a vedete do projeto.

O ponto da Barra funciona aos sábados, das 9h às 14h, e oferece, além do banho de mar assistido, surfe adaptado, piscina infantil, vôlei de praia sentado e frescobol. O público varia entre 20 e 50 assistidos por dia, mais os seus familiares. No ano passado, o programa atendeu 4.500 pessoas direta e indiretamente.

Em Copacabana, as tendas ficam na altura da Rua Francisco Sá, perto do Posto 6, e há rampa concretada de acesso à areia. Entre as atividades oferecidas aos domingos, das 9h às 14h, estão banho de mar, piscina infantil, surfe adaptado, handbike e jet-ski. Os organizadores planejam acrescentar o vôlei de praia sentado e o frescobol ainda este ano. O trabalho é em parceria com o 3º G-Mar, que cede dez salva-vidas voluntários.


Organizadores do programa cobram apoio da prefeitura para dar infraestrutura a participantes

Além de expandirem o projeto “Praia para todos”, que permanece até 8 de junho, os organizadores cobram mais apoio da prefeitura. Um dos pedidos é a instalação de uma rampa de concreto no ponto da Barra.

Já pedimos várias vezes, mas, até agora, nada. Temos que improvisar para que as pessoas possam chegar. E isso acontece numa cidade que vai receber os Jogos Paralímpicos em três anos — reclama o biólogo Ricardo Gonzalez, idealizador do programa.

A nadadora Danielle Gilson, que participa do projeto desde o início, faz coro e enumera as dificuldades enfrentadas:

Você chega a um cinema, e o lugar reservado à pessoa em cadeira de rodas é o pior possível, na primeira fila. Quando vai ao teatro, tem que se conformar com o acompanhante em pé ao seu lado ou sentado longe. A cidade não está preparada.

A falta de uma melhor estrutura acaba aproximando não só as pessoas com deficiência como os seus parentes. Enquanto aguardam a hora de entrar no mar nas tendas montadas na areia, os participantes trocam experiências e agendam encontros pós-praia.

Isso vira um clube — resume Fábio Fernandes, um dos organizadores do projeto. — A convivência aqui é muito harmoniosa. Cada um espera a sua vez de entrar na água, e muitos saem depois juntos.

Quem está entrando para o “clube” é Alexandre Lopes, de 42 anos, que sofreu um acidente de moto há dois. Sem movimento nas pernas desde então, ele só voltou a entrar no mar no último sábado:

Foi uma sorte porque um amigo meu postou uma foto das atividades na sexta-feira. Quando abri, vi que começariam no dia seguinte e não pensei duas vezes.

Parceiro do projeto em Copacabana, o tenente-coronel Marcelo Pinheiro, comandante do 3º G-Mar, quer manter a estrutura montada ao longo do ano todo, oferecendo aos participantes outras atividades nas areias, como oficinas diversas.

Só assim a praia vai se tornar um espaço democrático de verdade — diz ele.



FONTE: O GLOBO


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